Via Blog da Hilde
Muitos de vocês já devem ter ouvido falar em Pagu, a eterna musa do Modernismo brasileiro. Por muitos anos, tocar no nome de Patricia Galvão, a Pagu, foi sinônimo de preconceito ou motivo de menosprezo. Muitos a consideravam louca, devassa e subversiva para sua época. Na verdade, Pagu estava muito à frente de seu tempo. Era mulher livre, intensa, inteligente, contestadora, criativa, sem papas na língua e cheia de estilo...
A bela e instigante Pagu, no auge de sua juventude, final da década de 20. O poeta Raul Bopp escreveu o seguinte poema para a jovem: Pagú tem uns olhos moles/ uns olhos de fazer doer/ Bate-coco quando passa/ Coração pega a bater/ Eh Pagú eh!/ Dói porque é bom de fazer doer (...)
Ano passado, se estivesse viva, Pagu teria completado 100 anos. Neste 2011, não poderia haver uma homenagem mais justa do que fazer dela tema central da Ordem do Mérito Cultural, a mais importante condecoração conferida pelo governo brasileiro a pessoas e entidades que, de forma significativa, contribuíram para a Cultura Brasileira. A premiação aconteceu nesta quarta-feira, no Teatro Santa Isabel, no Recife. Na ocasião, Zuzu Angel, minha querida mãe, também foi homenageada. Mas a noite era mesmo de Pagu...
Pagu foi pensada e apresentada em detalhes. Toda a sinalização do evento, as imagens projetadas no palco durante a premiação, o livreto de apresentação dos premiados e até um kit Pagu foi distribuído a todos os convidados na cerimônia de entrega da Ordem do Mérito Cultural, constando de foulard Pagu, t-shirt Pagu, bolsa Pagu, diário de Pagu...
Pagu nasceu em 1910, na cidade de São João da Boa Vista, interior de São Paulo. Sempre foi muito precoce. Aos 12 de idade, conheceu Olympio Guilherme, diretor do primeiro filme neorrealista brasileiro, Fome (1931), com quem iniciou sua vida sexual. Aos 15, Pagu já colaborava, sob o pseudônimo de Patsy, para um pequeno jornal em circulação na cidade de São Paulo. Na mesma época, frequentou o Conservatório Dramático e Musical de São Paulo, onde tinha aulas com ninguém menos que Mário de Andrade...
Pagu, ainda menina
Pagu, aos 17
Por volta dos 18 anos, conheceu o poeta Raul Bopp, que lhe deu o apelido de Pagu, pois achava que seu nome era Patrícia Goulart, ao invés de Patrícia Galvão. O apelido, vocês sabem, a acompanhou pela vida toda. Foi o mesmo Raul Bopp quem a enturmou com os artistas e poetas modernistas. A jovem passou a frequentar reuniões na casa de Tarsila do Amaral e Oswald de Andrade. O casal ficou encantado por ela. Tarsila adorava vestir Pagu como se fosse a sua bonequinha e a levava para todos os lugares. A admiração era mútua. Pagu foi bastante influenciada por Tarsila, e também a influenciou nos traços de seus desenhos. Era impossível não se encantar pelo ar misterioso da bela Pagu... Oswald de Andrade que o diga! O encantamento foi tal, que ele acabou largando Tarsila para ficar com a menina, para grande sofrimento da artista...
Croqui de Pagu, de 1929. Traços simples, quase primitivos
Desenho provocativo para a época, do Album de Pagu
A gatinha Pagu
Aos 19, Pagu passou a colaborar com a revista modernista da Antropofagia, onde publicou alguns de seus desenhos. No ano seguinte, 1930, casou-se com Oswald de Andrade, com quem teve um filho chamado Rudá. A escolha do local para a cerimônia do "Sim" foi um tanto ou quanto peculiar: um cemitério! Nessa mesma época, Pagu viajou para Buenos Aires, onde conheceu Luis Carlos Prestes. Voltou ao Brasil, encantada com seus ideais e filiou-se ao Partido Comunista Brasileiro. Junto com Oswald, publicou o polêmico jornal O Homem do Povo, impedido de circular pela polícia. Pouco tempo depois, Pagu foi presa por se envolver em uma manifestação. Tornou-se a primeira mulher a ser presa no Brasil por motivos políticos...
Pagu com o filho Rudá de Andrade
Pagu sendo libertada de uma de suas inúmeras prisões por motivos políticos
A história seguiu, Pagu foi libertada, mas ainda seria presa mais 22 vezes em sua vida! Todas por motivos políticos. Algum tempo depois, publicou o primeiro romance proletário brasileiro, Parque industrial, e passou a viajar o mundo, como correspondente de jornais do Brasil...
Em sua volta ao Brasil, se separou de Oswald de Andrade. Devido a suas ideias libertárias, passou a ser considerada uma "inimiga" do governo Vargas. Anos mais tarde, casou-se com o jornalista Geraldo Ferraz, com quem teve um filho, Geraldo Galvão Ferraz. Continuou escrevendo poesias, crônicas e romances. Além de colaborar com jornais e traduzir livros, arriscou-se, também, como dramaturga. Pagu foi uma mulher muito ativa, mesmo com as idas e vindas da prisão, ela continuava a produzir. Em 1962, doente, morre de câncer, aos 52 anos...
Pagu era cheia de personalidade. Além de vanguardista no modo de pensar, agir, escrever e desenhar, ela ainda ficou bastante marcada por seu estilo de se vestir. Pagu era ultra-fashion. Andava sempre maquiada, lábios preenchidos por batom vermelho bem escuro, quase roxo de tão intenso. Os cabelos no ombro, desgrenhados, um pouco desarrumados, mas super charmosos. Blusas transparentes ou roupas curtas demais para a época não eram problema para ela...
A Ordem do Mérito Cultural 2011, além de contemplar, merecidamente, tantos nomes e valores da cultura nacional, também foi uma boa oportunidade para muitos conhecerem a admirável, incontrolável e intensa Pagu!...
Fotos: reprodução
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