quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Um passado que não pode ser esquecido...

Stuart Angel Jones


Nesta linda manhã ensolarada no Rio de Janeiro, de frente para a Lagoa Rodrigo de Freitas, no Clube de Regatas do Flamengo, ocorreu a cerimônia de inauguração do memorial em homenagem a Stuart Angel Jones.

Lá estavam presentes autoridades como Paulo Vannuchi, Ministro da Secretaria Nacional de Direitos Humanos; Franklin Martins, Ministro da Secretaria de Comunicação Social; Carlos Alberto Muniz, Vice-Prefeito do Rio de Janeiro; Patrícia Amorim, vereadora e Presidente do Flamengo; Hildegard Angel, jornalista, Presidente do Instituto Zuzu Angel e irmã de Stuart, além de amigos e companheiros de militância do homenageado.

A cerimônia foi aberta com um lindo texto do jornalista Antonio Maria Filho em que citava a curta, porém vitoriosa, trajetória do amigo como remador do Flamengo, um lado que poucos conheceram do jovem militante, filho de Zuzu Angel. Inclusive, na época em que estava sendo perseguido pela ditadura militar, Stuart contou com o apoio de seus amigos do remo, refugiando-se na garagem do clube. Mas o jornalista contou que o amigo não se escondeu lá por muito tempo, pois não queria que seus companheiros do remo fossem prejudicados ou considerados suspeitos. Isso prova que Stuart tinha um enorme coração e estava sempre pensando no próximo. Entre outras características, Antonio descreveu Tuti, como era chamado pela família, como um menino carismático e namorador, como todo rapaz de sua idade...

Patrícia Amorim, Presidente do Flamengo, contou que para o clube é uma honra prestar essa homenagem a pessoas como Stuart. E destacou que a formação de atleta deve ir muito além do esporte, refletindo-se no dia a dia, como foi o caso de Stuart, que não só havia sido um líder no remo, um voga (que dita as regras no esporte), como, também, um líder estudantil, sem medo de enfrentar a realidade, um vencedor convicto.

Ana Cristina Angel, irmã de Stuart que mora na França, não pôde estar presente, mas escreveu um texto ressaltando que a busca da verdade deve ser uma exigência para a história do Brasil, que jamais deve ser esquecida.

Hildegard Angel, irmã de Stuart, emocionou a todos com seu discurso, ao dizer que, talvez, muitos amigos não tenham comungado das ideias de seu irmão na política, mas que, hoje, estavam ali presentes porque são brasileiros e sabem que um país deve ser livre e democrático. Hilde descreveu Tuti como um líder manso, não só no remo, como na política, sempre de coração aberto.

Já o jovem Gabriel Zelesco, representante do Centro Acadêmico de Economia da UFRJ, mesmo não tendo vivido os anos de chumbo da ditadura militar, fez questão de afirmar sua admiração por aqueles jovens que, como Stuart, lutaram por um país mais justo. Gabriel relembrou que Stuart e sua mulher, Sônia Maria Lopes de Moraes, foram estudantes de Economia da UFRJ e que, naquela época, o campus da Praia Vermelha era um turbilhão de ideias. Ali, jovens estudantes, como Stuart e Sônia, se reuniam, debatiam e planejavam ações que pudessem transformar e mudar aquela realidade do Brasil. Era ali que funcionava o teatro de arena, sendo, também, um ponto de encontro de todos os jovens engajados. Em 2006, os estudantes de Economia da UFRJ resolveram prestar uma homenagem a Stuart e a todos os jovens militantes, dando ao centro acadêmico o nome de Stuart Angel Jones.

Gabriel disse ainda que o memorial inaugurado hoje é uma forma de fazer presente esse período que não foi vivido pelas novas gerações, propagando a mensagem de que, assim como aqueles jovens, a juventude de hoje deve transformar seus sonhos em ideais.

O Vice-Prefeito do Rio, Carlos Alberto Muniz, que, na época, foi companheiro de Stuart na militância, destacou a importância do resgate e da busca pela verdade da história recente do país. Disse que o DOPS não pode ser transformado em um arquivo morto...Que ele possa ser aberto e possa ser do conhecimento de todos, quem sabe, em um museu para que essa memória não se perca. E que a semente deste memorial a Stuart Angel Jones plantada hoje, no Clube do Flamengo, se espalhe...Que esta homenagem nos faça enxergar que, hoje, independente de nossa escolha política, o Brasil é um país melhor, graças aqueles que um dia lutaram para isso.

O Ministro Franklin Martins, visivelmente emocionado, disse que o memorial inaugurado celebra não só a memória de Stuart como a de sua mãe, Zuzu Angel e Sônia, mulher de Stuart, ambas mortas pela ditadura militar, além de todos aqueles que lutaram por um país mais justo.

Zuzu, guerreira, lutou até o fim para reaver o corpo do filho, encontrando na Moda uma maneira de protestar e expressar sua angustia...

Franklin, que também foi companheiro de militância de Stuart, compartilhou o orgulho de ter pertencido a uma juventude maravilhosa como aquela, que segundo ele, também errou, pois era humana, mas que em duas coisas, de fato, não errou: não apoiou a ditadura e não esperou o Carnaval chegar para fazer isso. Ele ainda ressaltou que, se pudesse, faria tudo outra vez...

O Ministro Paulo Vannuchi disse que não se deve empregar a jovens como Stuart a posição de vítimas da ditadura e sim, de heróis. Ressaltou que o torturado é que derrota invariavelmente o seu torturador, e a prova disso é este monumento em homenagem ao companheiro.

Paulo ainda falou da importância da criação, pelo Presidente Lula, da Comissão do Direito à Verdade, destinada a apurar casos de violação de direitos humanos ocorridos no período da ditadura militar, e disse: “Esse passado é um tesouro cheio de energias. Deve-se garantir que o povo brasileiro seja portador dessa energia...”

E para fechar, com muita emoção, Hildegard Angel retirou a bandeira do Brasil que cobria o memorial em homenagem a seu irmão e foi saudada com gritos de militantes, amigos de Stuart, que pronunciavam os nomes daqueles que também foram mortos e torturados pela ditadura. O nome de Zuzu Angel ecoou e todos disseram em coro: “Presente!”...


Fotos de Sebastião Marinho


Min.Paulo Vannuchi, Hildegard Angel, Min.Franklin Martins, Vice-Prefeito Carlos Alberto Muniz e Patrícia Amorim


Min.Paulo Vannuchi e Hildegard Angel


Patrícia Amorim


Hilde em seu discurso



Vice-Prefeito Carlos Alberto Muniz



Min.Paulo Vannuchi



Gabriel Zelesco, do Centro Acadêmico de Economia da UFRJ


Hilde segura placa em homenagem a Stuart Angel Jones, presente da Federação de Remo do Estado do Rio de Janeiro



Memorial em homenagem a Stuart Angel Jones


Detalhe do memorial


Hilde com remadores do Clube de Regatas do Flamengo

5 comentários:

  1. Muito boa matéria, muito lindo o ato de homenagem ao Stuart! Um encontro que nos fez chorar de emoção e de alegria por termos tido mais uma oportunidade de homenagearmos nossos companheiros, de convivermos com o nosso passado de lutas, de resistência, com um passado que se desdobra no presente na construção da memória, da verdade e na busca pela justiça social

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  3. Cara Hildegard
    Espero que tudo esteja bem. Justa , emocionante e belissima homenagem a Stuart. Honremos nossos companheiros assassinados ou desaparecidos. HONRAI A QUEM TEM HONRA ( Romanos 13.7)
    Aos poucos vamos resgatando a história dos nossos heróis. Como todos tinham uma vida normal e tranquila mas sensiveis aos problemas do proximo. Tinham compaixão eram utópicos.
    Não admitiam desigualdades e nem tampouco sofrimentos como passar fome. Morreram pelos ideais de um Brasil justo , democrático e pacífico.
    ZUZU, STUART E SONIA PRESENTES
    Abraços
    BETINHO DUARTE
    "QUEM ESQUECE O PASSADO ESTÁ CONDENADO A REPETI-LO". Leon Bloy

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  4. Prezada Hildecard
    Será que a senhora poderia perguntar ao Sr Paulo Vannuchi quando é que a CANALHA militar, mais conhecida aqui na redecastorphoto como MILICANALHAS, que torturou e assassinou seu irmão poderá ser jurídica e historicamente NOMEADA e enquadrada?
    Bela, merecida e sensível homenagem ao Stuart, mas não o suficiente...
    Castor

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  5. Sobre a homenagem o Castor disse tudo. Eu pelo menos após estas homenagens fico me sentindo um idiota, com uma pressão no peito e a sensação de que alguma coisa me foi subtraída.

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