Enquanto o Museu da Moda não abre suas portas, toda última quinta-feira do mês, a Casa Zuzu Angel realiza em parceria com a Abepem, dirigida por Kathia Castilho, cafés com bate-papos para pesquisadores, estudantes, profissionais e interessados nas áreas da Moda, Memória e Conservação Têxtil. Na edição de outubro, tivemos a presença da historiadora Renata Fratton, que, na ocasião, falou sobre a história do grande costureiro gaúcho Rui Spohr.
Renata Fratton na edição de outubro do Café na Casa da Zuzu
A palestra de Renata foi um verdadeiro passeio sociológico pelo Sul do Brasil. Contando a história da Moda do Rui, ela foi além da Moda. Assim fazem os grandes pesquisadores! Eles vão ao cerne das profundidades. Renata iniciou com o Rui em suas origens interioranas, quando ele ainda se chamava Flavio, transportou-o para a grande capital, quando se transformou em Rui, e o levou para a França na trilha dos mestres da Moda dos anos 50. Foi lá que ele se especializou em chapelaria e, depois, em Moda, no curso da Chambre Syndicale, contemporâneo de Saint Laurent e Lagerfeld (no ano em que Rui entrou, eles tinham acabado de se formar). Alguns anos depois, Rui voltou para Porto Alegre com toda uma bagagem poderosa, equipada para desafiar a hegemonia da modista Mary Steigleder, que com sua madrinha na imprensa, a absoluta Gilda Marinho, mantinha a preponderância na Moda gaúcha. No entanto, o Rui, para fazer frente a todo esse poder feminino, precisou ele mesmo se tornar um jornalista de moda, e como "dessinateur" que era, passou a ocupar espaço em um importante jornal em que dava noções de estilo e de moda com dicas ilustradas por ele e as credenciais de quem acabara de chegar da capital da elegância do mundo. Paralelamente a isso, ele se manteve chapeleiro, até que a Gilda Marinho decretou em sua coluna poderosa que não se usava mais chapéu. E na gelada Porto Alegre as cabeças femininas se descobriram em 1954 (!). Enquanto isso, na Europa, nos Estados Unidos e nas telas de Hollywood, os chapéus continuavam a se trombar nos salões de chá, almoço e jantar...
Rui em 1949
Logo, Rui conseguiu furar o bloqueio e se firmou como grande estilista no Rio Grande do Sul, sempre com um olhar muito clássico e com vigor juvenil de quem desejava impor sua marca. Ele conseguiu a vitória de ser incluído, na década de 60, na seleção dos figurinistas da Rhodia, que fizeram para a empresa, juntamente com a Varig, aquela grande campanha internacional de moda inspirada em temas brasileiros. O time, na época, era composto apenas por homens.
Campanha da Varig, coleção Brazilian Nature
Ele também vestiu Scila Médici quando jovem filha de militar, depois, em seu casamento e, por fim, quando primeira-dama, ele aceitou vesti-la sem cobrar por isso, pois ela alegou não ter dinheiro para lhe pagar. Então, os tecidos eram doados pelas fábricas e Rui presenteava o seu trabalho e o de seu ateliê. Quando ele foi a Brasília visitá-la, no entanto, apesar das facilidades do guia para lhe mostrar a cidade, Rui não conseguiu ser recebido por dona Scila, retornando a Porto Alegre sem ter visto a cliente da qual jamais cobrou sequer um tostão durante todos os anos de governo de seu marido e para quem produziu dezenas de vestidos, abrangendo as quatro estações de cada ano, as inúmeras solenidades, os vestidos de gala e os guarda-roupas das viagens oficiais.
Scila Médici, em uma de suas inúmeras aparições vestindo Rui Spohr
Foi Rui quem lançou a atriz Lílian Lemmertz quando, em sua fase chapeleiro, a descobriu na Rua da Praia, em Porto Alegre. Caminhando na mesma rua, ele encontrou Lucia Curia e a lançou modelo junto com Lílian. As duas galgaram o estrelato: Lílian como grande atriz brasileira, Lucia como grande manequim da Maison Chanel e futura senhora Walter Moreira Salles. Além do conhecimento da Moda, Rui importou de Paris para o Brasil o Dia de Santa Catarina, em que a Santa protetora da Moda passou a ser devoção no setor. Ele viu na França que, no dia dela, aconteciam desfiles de Moda, pelas modelos chamadas de "catherinettes", sempre celebrando a santinha.
Lílian Lemmertz de chapéu preto e estola de pele. Lucia Curia aparece na outra ponta, de blusa rosé.
Rui, em seu ateliê, em foto atual
Dóris, esposa e musa inspiradora de Rui, pintada pelo próprio, ao lado direito. Ele e ela formam o casal perfeito. Dóris sempre foi sua parceira na vida, na Moda e no trabalho.
Não deixe de comparecer nos próximos cafés! As histórias são sempre deliciosas. E o melhor de tudo: a entrada é gratuita. A delicadeza de quem contribui com a mesa do café levando um bolinho, um pãozinho, uma gostosura, é sempre apreciada. Em breve, o Instituto Zuzu Angel e a Abepem divulgarão mais informações sobre o próximo bate-papo, que acontece em novembro. Fica ligado na nossa página do Facebook. ;)
Justa e carinhosa homenagem para um dos maiores da moda brasileira. Rui Spohr merece todas as lembranças!
ResponderExcluirmaravilhoso!!!!!!!!!
ResponderExcluirhi, não identifiquei Celina de Farias
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