14 de abril de 1976: um Karmann Guia, sai do Túnel dois Irmãos e despenca, num “acidente”, rumo ao abismo. Dirigindo, Zuzu Angel, renomada estilista e desvelada mãe que lutava como leoa à procura de seu filho Stuart Angel , preso, torturado e morto pela ditadura de plantão. Bem relacionada, conseguiu ser recebida por autoridades e pessoas importantes, no Brasil e no exterior, onde, graças à sua moda, conseguira amizades influentes, inclusive fazendo um desfile histórico, apresentando modelos ensanguentados, pássaros engaiolados e tanques de guerras bordados. Sua insistência em saber do destino do filho, incomodou e irritou os incomodáveis irritáveis daqueles tempos tenebrosos, sabendo que isso poderia custar-lhe a vida; como de fato, custou.
Conheci seu trabalho como costureira e estilista na Casa de sua filha Hildegard Angel, que me abriu as portas para selecionar os modelos , posteriormente mostrados no SENAC-SP em uma exposição comandada por mim. Curioso, acabei descobrindo entre centenas de papeis, uma página em que ela dizia: “não tenho coragem, quem tinha coragem era meu filho, eu tenho credibilidade”. Li e me emocionei, mas discordando dela. Tinha sim muita coragem “Esta Mulher”, cantada por Chico Buarque, enfrentando os poderosos-afrontosos que nos tratavam como suas propriedades, podendo fazer e desfazer, sem prestar contas a ninguém.
Zuzu dizia “ Eu sou a moda brasileira”
Neste país de memória tão curta e tão vazia, relembrar Zuzu, é uma tarefa obrigatória para alguém, que como eu, faz questão de manter os nomes que construíram nossa moda em evidência, já que aqueles que deveriam fazê-lo, estão preocupados com “glamour” e desfiles inúteis, mas nunca com a história dos personagens que abriram as portas para o que se atrevem a chamar de “moda brasileira” O mais lamentável é que ela seja lembrada somente pela tragédia de sua vida, não por suas belas criações. Assim é, como dizia Millôr Fernandes, o Brasil, “país em que todo dia, é primeiro de abril”
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